quinta-feira, 2 de maio de 2013

Uso racional de medicamentos

Fazer uso correto de um fármaco exige cautela. Por isso, 5 de maio é o Dia do Uso Racional de Medicamentos no Brasil

Segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso racional de medicamento ocorre quando o paciente recebe o remédio apropriado a sua condição clínica (doença) em doses adequadas às necessidades individuais por um período de tempo determinado e ao menor custo possível, tanto para o paciente como para a comunidade.

 






















Ter uma farmácia em casa requer uma série de cuidados, a começar por manter os produtos em um ambiente arejado e fora do alcance das crianças. A cautela é redobrada no caso da validade do remédio
Foto: Divulgação
 

Por isso, cada conduta do processo - desde a indicação do fármaco até seu uso - possui um dever específico. As responsabilidades são claras e bem pontuais. O cidadão deve sempre esclarecer suas dúvidas por meio de centros de informação, e denunciar possíveis irregularidades em órgãos públicos encarregados desta fiscalização, principalmente quanto à venda de medicamentos em estabelecimentos não autorizados e a falsificação de produtos. Parece algo elementar a ser cumprido, mas a realidade - de fato - é bem outra.

"O cidadão é corresponsável por seu tratamento, assumindo o compromisso de realizá-lo de forma adequada", afirma a farmacêutica Eudiana Vale Francelino, do Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de Medicamentos do Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Ceará.

Cabe ao médico a tarefa de realizar a anamnese completa do paciente. De posse das informações, é possível evitar possíveis interações medicamentosas e reações adversas, garantindo o diagnóstico correto para prescrever a melhor opção terapêutica.

O farmacêutico, por sua vez, deve orientar bem o usuário, esclarecendo as dúvidas sobre o tratamento. E, ao laboratório cabe a missão de mapear toda a cadeia produtiva do medicamento de forma a assegurar um produto realmente seguro e eficaz.

Falta de informação

A automedicação é uma prática comum aos brasileiros. Dentre as razões, pode-se citar a falta de acesso aos serviços de saúde básicos para uma consulta médica, a superlotação desses serviços, o grande número de pacientes à espera de atendimento, a ausência de profissionais farmacêuticos nos estabelecimentos de saúde, e a propaganda excessiva de medicamentos por parte da indústria farmacêutica.

"A população, muitas vezes, sente-se desprotegida, porque tenta resolver o seu problema de saúde conforme o que ela tem acesso mais fácil. E a falta de informação agrava ainda mais esse quadro", explica Eudiana.

O uso indiscriminado de analgésicos e anti-inflamatórios (apesar deste último agora exigir apresentação de receita) é um exemplo clássico. "A automedicação pode agravar ou mascarar alguma doença. Um efeito adverso a longo prazo, por conta desse hábito, seria a nefrotoxicidade induzida por analgésicos". A nefrotoxidade é ocasionada por substâncias que podem gerar danos aos rins.

Toxidade

De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), os medicamentos por agentes tóxicos estão entre os quatro primeiros lugares no Brasil em casos de intoxicação.

O uso indiscriminado de remédios pode resultar em diversos prejuízos à saúde, desde os leves aos mais graves e até fatais. "Isso depende de vários fatores como o tipo de droga e a forma como é administrada, a dosagem e a condição do paciente (idosos, crianças, neonatos, pacientes com problemas hepáticos e/ou renais, com imunodeficiências ou com hipersensibilidade alérgica)", pontua a farmacêutica.

Eudiana Francelino alerta que esse tipo de comportamento pode gerar reações indesejáveis desde uma simples coceira a uma hepatite medicamentosa. "Muitas vezes, não se percebe que a interação medicamentosa entre um anti-inflamatório administrado por automedicação e um anti-hipertensivo é capaz de gerar uma reação. A interação medicamentosa também pode decorrer da consulta a vários médicos especialistas e da ausência de informações fornecidas pelo paciente de que está tomando determinado remédio", descreve.

Prazo de validade
Verificar o período em que o produto poderá ser utilizado é fundamental em estudos de estabilidade que caracterizam o prazo de validade do remédio (impresso na embalagem). É preciso respeitá-lo. "Essa atitude evitará riscos de eventos adversos e efeitos indesejáveis adquiridos pelo uso do produto vencido", recomenda.

As condições de armazenamento também devem ser seguidas conforme as orientações contidas na embalagem. Do contrário, o fármaco pode perder ou reduzir sua eficácia mesmo que se encontre dentro do prazo de validade.

Pílula
Outro problema que acomete as mulheres, principalmente as adolescentes, é o uso indevido da pílula do dia seguinte, gerando alterações hormonais, dores de cabeça e náuseas. É preciso considerar que a pílula concentra grande quantidade de hormônios e, se administrada de forma incorreta, pode não resultar no efeito esperado. "Indico o uso de preservativos, pois previne a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)", diz Eudiana.

A partir deste ano, o Ministério da Saúde disponibiliza gratuitamente a pílula do dia seguinte nos hospitais da rede pública, tornando ainda mais importante a presença de profissionais da saúde para prestar informações quanto ao uso seguro. A pílula anticoncepcional também é alvo frequente de uso inapropriado, devido ao fácil acesso sem orientação médica. O uso incorreto pode resultar em riscos para as crianças, fato potencializado em função das condições fisiológicas dos pequenos (desenvolvimento do metabolismo e excreção diferenciadas dos adultos).

O acesso a medicamentos no Brasil deve ser gerenciado para que não haja desabastecimento. "Quando se tem acesso correto ao remédio, reduz-se a ocorrência da ´empurroterapia´, atitude recorrente por parte dos balconistas de farmácia ou por indicação de vizinhos, amigos e familiares sobre a eficácia de um fármaco para uma determinada condição clínica".

Restringir a venda de antimicrobianos em farmácias, exigindo a receita médica e registrar dados da venda em um sistema próprio, oferecer assistência médica ajudar a conscientizar a população, segundo a farmacêutica, são medidas essenciais e capazes de gerar mudanças fundamentais no sentido de reduzir a automedicação.

Mais informações

Centro de Informação sobre Medicamentos (CIM-UFC)
Das 8h às 18h. De 2ª a 6ª feira
(85) 3366.8293 / 3366.8276

Centro de Estudos e Informação sobre Medicamentos da Sesa
Das 8h às 17h. De 2ª a 6ª feira
(85) 3101.4354 / 3101.4356

SAIBA MAIS
O medicamento deve ser adquirido em farmácias com registro sanitário fornecido pelo órgão de vigilância sanitária; certificado de regularidade expedido pelo Conselho Regional de Farmácia, mediante apresentação de receituário médico e conforme a posologia prescrita;

Em casos de dúvida, o usuário deve procurar um médico ou o farmacêutico do estabelecimento;

No ato da compra, o consumidor deve estar atento quanto a legitimidade do medicamento, certificando-se do selo de segurança existente na embalagem, de forma a evitar a compra de produtos falsificados;

Observe o prazo de validade e se a embalagem não foi violada;

Armazene o medicamento de maneira adequada em domicílio, principalmente fora do alcance das crianças, assim como e m local fresco e ventilado, sem incidência direta da luz solar;

Fique atento à dosagem e à duração do tratamento;

Diferencie as embalagens, identificando os nomes dos medicamentos a serem administrados, principalmente no caso de idosos e crianças;

Realize o descarte correto dos medicamentos. O ideal é que não sejam jogados no lixo, evitando um possível uso por outras pessoas e a contaminação do ambiente. Deve-se separá-los em local específico e devolvê-los à farmácia onde foi adquirido ou em uma unidade de saúde para a incineração dos mesmos.

VICKY NÓBREGAESPECIAL PARA O VIDA






quarta-feira, 1 de maio de 2013

Leite materno reduz resistência de bactérias a antibióticos, diz estudo

Proteína aumenta sensibilidade de patógenos a remédios como penicilina.
Descoberta é promissora para enfrentar 'superbactérias' resistentes.

Da France Presse

 Amamentação é o segredo da volta a forma, diz nutricionista (Foto: Rede Globo/ Reprodução) 

Leite materno tem proteína que reduz resistência de bactérias a antibióticos (Foto: Rede Globo/ Reprodução)


Uma proteína do leite materno ajuda a reduzir significativamente a resistência aos antibióticos desenvolvida por alguns patógenos causadores de pneumonias graves e outras infecções de difícil tratamento, revelou um estudo publicado nesta quarta-feira (1°) nos Estados Unidos.

A descoberta é promissora para enfrentar o problema das "superbactérias" resistentes aos antibióticos nos hospitais, como o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (SARM), responsável por um grande número de infecções hospitalares. Experiências em laboratórios e com animais demonstraram que essa proteína, chamada "Alfa-lactoalbumina humana letal a células tumorais", conhecida como HAMLET, aumenta a sensibilidade de bactérias a vários antibióticos, como a penicilina e a eritromicina.
Os efeitos foram tão pronunciados que as bactérias resistentes à penicilina, como o estreptococo da pneumonia e a SARM, recuperaram a sensibilidade aos antibióticos aos quais antes resistiam, explicaram os cientistas, entre eles, Anders Hakansson, da Universidade de Buffalo, em Nova York.

A pesquisa foi publicada na edição desta quarta-feira da revista PLoS ONE.
A proteína HAMLET "tem o potencial de reduzir a concentração de antibiótico necessária para lutar contra as infecções e nos permite usar os antibióticos mais comuns contra os patógenos resistentes", explicou Hakansson.
As bactérias parecem ter grandes dificuldades para o desenvolvimento da resistência à HAMLET, morrendo em grande número, inclusive depois de terem sido expostas a esta proteína por muitas gerações, acrescentou.
"Diferente dos tratamentos sintéticos, HAMLET é uma substância que se forma naturalmente no leite humano e não tem efeitos colaterais tóxicos observados comumente nos antibióticos mais fortes, necessários para matar patógenos ultra-resistentes", disse o pesquisador.
Essa mesma proteína também tem sido objeto de pesquisa sobre seu uso em tumores cancerosos, especialmente os resistentes a outros tratamentos de quimioterapia.